terça-feira, 9 de dezembro de 2008

o silêncio das estrelas

Tudo que ele fez e tudo que passaram juntos. Era o que Nalu mais pensa antes de dormir ultimamente. Sentimentos totalmente atropelados na sua cabeça. A história dela e de Felippe era praticamente perfeita, aquelas de contar no almoço de domingo para os netos.

Ou melhor, seria.

Há três meses aproximadamente a menina estava muito diferente, quase todos os amigos chamavam sua atenção à mudança. Ela sempre muito falante e extrovertida estava extremamente fechada. Nem ela se reconhecia mais, onde estava a verdadeira Nalu? Quem vivia em seu quarto ouvindo música com certeza não era ela, mas o tempo sempre traz coisas pra melhorar tudo. E há mais ou menos um mês a garota tinha arranjado um novo motivo para sorrir e pedir para que o tempo passasse. Ela não entendia muito bem o real sentimento que tinha por Miguel.
Desde que o conhecera, mais de um ano, ele tornou-se um norte, quase que um porto seguro ou a certeza de um sorriso no rosto adolescente encharcado de lágrimas. Um homem mais velho que tinha mudado sua visão de mundo, tornado-a muito mais sensível a tudo que estava ligado a arte. O que sentia por Miguel era um carinho, imenso gigantesco! Aquele que só de sentir a presença da pessoa por perto ou de ouvir a voz já fazia o coração alegrar-se, ou às vezes bastava ela ver algo que a remetesse a ele e o dia melhorava completamente! O maior medo dela era que as pessoas interpretassem essa admiração como paixão. E isso realmente a fazia triste, pois ele tinha namorada e Nalu sempre achou os dois bonitos demais juntos. Aqueles casais que só de olhar já se tem a certeza que a felicidade ronda o relacionamento e irá rondar por muito tempo, isso a deixava muito feliz, pois apenas o sorriso e o olhar brilhante de felicidade de Miguel a deixava irradiante de alegria.

Ok.

Por outro lado o relacionamento com Felippe tirava seu sono há um bom tempo. As idas e vindas, os encontros e desencontros de suas vidas estavam a deixando maluca! Ele havia mudado bruscamente o jeito de tratá-la. E tudo que ela queria era senti-lo novamente “para/com ela”. Sabe? Aquelas brincadeirinhas de sempre, os empurrõezinhos, os olharzinhos de canto de olho. Tudo isso fazia falta demais!

Há mais ou menos duas semanas tudo tinha voltado. Sim, a menina estava irradiante, falante, “flutuando de alegria”, como ela mesmo falava, suas relações estáveis com os amigos voltaram, enfim a poesia viva da vida e do amor havia voltado.

Insônia.

Tudo voltou com tamanha rapidez, tanto quanto acabou, que ela acabou assustando-se. A vergonha voltou, a vergonha do toque, da aproximação. Tudo tão bonito.
Mas a assustava, ela não sabia se queria sentir tudo como antes, não queria se machucar.
Mas por outro lado ela sentia falta de ter Felippe por perto, muito mais da amizade.
Quando Nalu estava no auge da esperança de uma reconciliação o menino aparece na sua frente com uma namorada, N A M O R A D A ! O chão simplesmente saiu de seus pés, o mundo despencou. Naquela loucura o cérebro procurava alguma atitude a ser feita para agir com naturalidade, com o chão reconstituído, a menina tentou ser a mais natural possível cumprimentou a namorada ainda meio tonta. O menino fez as devidas apresentações, apresentando Nalu como “minha melhor amiga” e a parceira como Carolina.

Para sair logo daquela situação incomoda a menina resolver dar uma desculpa qualquer e partiu para casa. Logo que deu as costas ao casal, o mundo despencou sobre sua cabeça mais uma vez, junto com o mundo, as lágrimas.
Desesperada pelas ruas com uma dor incrível no abdômen e o rosto inchado ela chegou em casa. Deitou um pouco e nada fazia aquela dor passar.
Levantou-se pegou um papel e escreveu algumas breves palavras, foi até a bolsa e da carteira tirou apenas dois reais e cinqüenta centavos.
Chegando no centro, subiu freneticamente as escadas de um dos prédios mais altos da cidade, ao chegar na cobertura. Deu os últimos passos e finalmente sentiu pela ultima vez a sensação de estar flutuando.

Silêncio.

Clara Martins Vieira



Um comentário: